Dialogar com a arte traria contribuições para (re)pensarmos o mundo do trabalho? Se mergulharmos na poesia, poderemos ampliar os sentidos e os debates para além do pragmatismo teórico? 

Talvez sim, talvez não... Experimente ler em voz alta o poema Não há vagas, de Ferreira Gullar.

O preço do feijão 

não cabe no poema. O preço 

do arroz 

não cabe no poema. 

Não cabem no poema o gás 

a luz o telefone 

a sonegação 

do leite 

da carne 

do açúcar 

do pão 

O funcionário público 

não cabe no poema 

com seu salário de fome 

sua vida fechada 

em arquivos. 

Como não cabe no poema 

o operário 

que esmerila seu dia de aço 

e carvão 

nas oficinas escuras 

- porque o poema, senhores, 

   está fechado: 

   "não há vagas" 

Só cabe no poema 

o homem sem estômago 

a mulher de nuvens 

a fruta sem preço 

    O poema, senhores, 

    não fede 

    nem cheira. 

(Melhores Poemas, Ferreira Gullar, 1963) 

Curso com Professor Dr. Yves Schwartz em Porto Alegre, Brasil.

Informações abaixo:

Trabalho e psicanálise

A interlocução entre a psicanálise e os estudos sobre o trabalho tem rendido algumas importantes colaborações para entendermos o corpo-si em atividade. O que aproxima os estudos ergológicos da psicanálise é a vocação desses campos de conhecimento para privilegiar o sujeito em suas manifestações singulares. Como diz Schwartz:

"Há uma obscuridade que, eu diria, coloca à distância toda a objetivação do sujeito, aquela que o faz passar, no fundo, como um 'objeto a ser descrito'. E desse ponto de vista, para mim, isso é o essencial. O essencial é restituir a forma pela qual o sujeito escapa sempre, a seu jeito, de ser objetivado - e a atividade, é isso que ela nos diz!" (Trabalho & Ergologia: conversas sobre a atividade humana. SCHWARTZ E DURRIVE, p. 199)

A edição 188 do Correio APPOA, da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, reune alguns debatedores do trabalho, duas das quais, pesquisadoras de ergologia, Dra. Marlene Teixeira e Ma. Geisa Abreu. O importante da coletânea, que foi coordenada pela psicanalista Rosana Coelho, é a disposição para articular essa interlocução.

Os ensaios podem ser acessados na íntegra no site da APPOA.

Programação da III Jornada sobre produção e legitimação de saberes para/no trabalho

A programação da III Jornada procurou demonstrar os diálogos que diversos pesquisadores de Educação e de Lingüística Aplicada vêm tecendo com a Ergologia no Rio Grande do Sul. Estavam presentes alunos e professores pesquisadores da Unisinos, entidade anfitriã, além da UFRGS, UCPel e do Proeja.

P R O G R A M A Ç Ã O

Dia 27/10/08

Atividade 1: Reunião de pesquisa

Manhã
Reunião de pesquisadores convidados, sob a coordenação da Profa. Dra. Maria Clara Fischer (PPGEdu/Unisinos). Nesse encontro, reservado a coordenadores de pesquisa, vários pontos da Ergologia foram discutidos com Yves Schwartz. O filósofo francês, que acompanha de perto as pesquisas no Brasil, ouviu atentamente às linhas de trabalho desenvolvidas no estado. Pesquisadores presentes: Yves Schwartz (APST, Universidade de Provença, Marselha, FR), Daisy Cunha (UFMG, MG), Maria da Glória Di Fanti (UCPel, RS), Marlene Teixeira (Unisinos, RS), Maria Clara Fischer (Unisinos, RS).

Atividade 2: Seminário

Tarde

Abertura oficial da III Jornada sobre Produção e Legitimação de Saberes para/no Trabalho, interfaces entre ergologia, linguagem e educação, com a palestra aberta ao público: “Elementos fundamentais da ergologia”, com palestra de Yves Schwartz.

28/12/08

Atividade 2: Seminário

Manhã:Diálogos entre Lingüística e Ergologia I, Coord.: Dra. Marlene Teixeira (PPGLA/Unisinos)
1) Do viés indisciplinar do trabalho: diálogo entre Translingüística e a Ergologia – Prof. Dra. Maria da Glória Di Fanti (PPGLA/ UCPel)
2) Atividade do professor estagiario de Língua Portugeusa e impasses em discussão – Josiane Hinz (mestranda PPGLA/UCPel)
3) O trabalho em uma empresa comercial: da importância e espaços de dizer – Ms. Ivete B. Machado (doutoranda PPGLA/UCPel)
4) Linguagem,trabalho e construção identitária: tramas dialógicas – Veridiana Caetano (mestranda PPGLA/UCPel)
5) Mídia impressa e discurso: o fazer jornalístico – Élida Lima (mestranda PPGLA/UCPel)
6) Cinema, tempo e atividade: tessituras filmicas latino-americanas – Ms. Regina Zauk Leivas (doutoranda PPGLA/UCPel)

Tarde: Diálogos entre Lingüística e Ergologia II, Coord.: Geisa Cássia Romani de Abreu (PPGLA/Unisinos)
1) Lingüística da enunciação e ergologia: um diálogo possível? – Profa. Dra. Marlene Teixeira; Éder de Oliveira Cabral (PPGLA/Unisinos/Cnpq)
2) Eu nunca me vi, assim, de fora: reflexões sobre o agir docente através da autoconfrontação – Ms. Rafaela Fetzner Drey (doutoranda PPGLA/Unisinos)
3) O trabalho docente em curso livre: o real a partir do prescrito – Taiane Malabarba (mestranda PPGLA/Unisinos)

29/12/08

Atividade 2: Seminário

Manhã:Diálogos entre a Ergologia e a Educação I, Coord.: Dra. Maria Clara B. Fischer (PPGEdu/Unisinos)

Reflexões sobre as relações entre o real e o prescrito no trabalho associado – Ms. Vera Schmidt (doutoranda PPGEdu/Unisinos)

Tarde: Diálogos entre a Ergologia e a Educação II, Coord.: Dra. Rosângela Fritsch (PPGEdu/Unisinos)

Formação em terapia ocupacional:tecnologias da terapia ocupacional, um dispositivo dinâmico a três pólos? – Ms. Eliana Furtado (doutoranda PPGEdu/Unisinos)

30/12/08

Atividade 3: Banca

Manhã: Banca de qualificação de projeto de doutorado: "Formação em terapia ocupacional: tecnologias da terapia ocupacional, um dispositivo dinâmico a três pólos?", de Eliana Furtado

Banca: Dra. Daisy Cunha; Dra. Elida Hennington (Fiocruz), Dra. Rosangela Fritsch (Unisinos); Dra. Edla Eggert (Unisinos)
Orientadora: Maria Clara Fischer

Atividade 4: Palestra

Tarde: Palestra dirigida ao PROEJA/RS: “Formação do trabalhador: contribuição da ergologia”
Palestrante: Dra. Daisy Cunha (UFMG/MG)

Yves Schwartz na Unisinos

São Leopoldo, 27/10/08

Convidado para a III Jornada sobre Produção & Legitimação de saberes para/no trabalho, o filósofo francês Yves Schwartz abriu o seminário promovido pelos Programas de Pós-Graduação em Educação e Pós-Graduação em Lingüística Aplicada da Unisinos. Schwartz é diretor do Departamento de Ergologia – Análise Pluridisciplinar de Situações de Trabalho (APST), na Universidade de Provença, sul da França, e vem acompanhando com muita atenção o desenvolvimento dos estudos ergológicos no Brasil. "Há algo especial que aproxima o pensamento brasileiro do pensamento francês no que se refere ao trabalho", disse o filósofo ao comentar o crescente interesse pela ergologia nas universidades brasileiras. A palestra "Elementos Fundamentais da Ergologia" apresentou ao público acadêmico de diversas instituições (UCPel, UFRGS, Unisc e Unisinos) a origem e os principais aspectos dessa nova proposta filosófica de estudos sobre o trabalho.

Marcada pela pluridisciplinaridade, a ergologia analisa o trabalho como uma atividade realizada por sujeitos singulares e, no Brasil, vem dialogando com várias disciplinas do conhecimento que se interessem pelo estudo do trabalho como um agir tipicamente humano. Pesquisas em Lingüística Aplicada, Educação, Sociologia, Psicologia, entre outras, começam a utilizar esse referencial teórico não como uma ciência associada, mas como um modo transversal de olhar o trabalho, que privilegie a subjetividade presente em cada trabalhador.

Também estavam presentes à mesa de abertura a Dra. Daisy Cunha, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Educação (NETE) da UFMG, Dra. Marlene Teixeira, professora do PPG em Lingüística Aplicada e responsável pela pesquisa Os efeitos da singularidade no trabalho: um estudo do uso de si na atividade do profissional de enfermagem, Unisinos, e Dra. Maria Clara Fischer, coordenadora do PPG de Educação e líder da pesquisa Educação Cooperativa: produção e legitimação de saberes para e no trabalho, também da Unisinos.

A III Jornada sobre Produção & Legitimação de saberes para/no trabalho segue com debates das interfaces entre Ergologia, Lingüística e Educação até dia 30 de outubro de 2008, no campus São Leopoldo.

(Texto e foto: Geisa Abreu)